Cianótipo ( invertido digitalmente ) por Pedro Horta
Tinha uns 13 anos quando ao entrar no Conselho Directivo de uma escola vi um cartaz:
Todos apontam o dedo ao rio furioso que, com a sua força, tudo vai derrubando à sua passagem...mas ninguém olha para as margens que o comprimem". O cartaz que ocupava meia parede era ilustrado com um rio tumultuoso comprimido em pequeno leito.
Olhei e naquele dia percebi muita coisa.
Tinha uns 30 anos quando comecei a fazer processos de ex-combatentes da Guerra Colonial. Entendi o significado de facto traumático. Observei os seus efeitos, que por vezes se manifestaram dezenas de anos após terem ocorrido.
Homens destroçados incompreendidos pelos outros e por eles mesmos.
Por vezes lembro-me de uma tarde em que tinha 13 anos.
Na semana passada soube que o Carlos ( nome ficticio ) havia roubado a Mulher ( entidade ficticia ) que o ajudara.
A principio não o entendi.
Depois soube que dormia na rua, que o pai está preso por homicídio, que o amarrava e batia quando era pequeno e que a mãe é alcoolica.
Então lembrei-me de uma tarde em que tinha treze anos
Então lembrei-me de dezenas de processos que fiz.
E então compreendi.
A facilidade com que empurramos os outros quando apenas nos pedem ajuda.
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