domingo, 13 de dezembro de 2009

Perguntaste-me o que estava a fazer.


Foto: Alexandra Rosa
Revelada em Café e Carbonato de Sódio


Parei por momentos. Olhei para a imagem de um menino Jesus, que, qual bandeira, ondulava numa varanda.

Apontei a minha velha máquina, calculei tempos e oiço-te:

O que fazes aqui?

Olha para ali. Não achas estranho?

Não me respondes, tiras-me a máquina e apontas para um local qualquer...disparas e vais-te embora a rir.

Ainda te oiço:  publica-a com um poema de Pessoa, que te vou mandar. 

Foi o que fiz.



Como um grande borrão de fogo sujo

O sol posto demora-se nas nuvens que ficam.

Vem um silvo vago de longe na tarde muito calma.

Deve ser dum comboio longínquo.

Neste momento vem-me uma vaga saudade

E um vago desejo plácido

Que aparece e desaparece.





Também às vezes, à flor dos ribeiros,

Formam-se bolhas na água

Que nascem e se desmancham

E não têm sentido nenhum

Salvo serem bolhas de água

Que nascem e se desmancham.




Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXVII"

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