domingo, 8 de novembro de 2009

Hoje fui passear.

Andei pelas ruas de Évora. Chovia. Chove sempre quando vou a Évora.

Procurei refúgio debaixo das varandas.

Faltavam ainda 3 horas para o comboio e chovia. Percorro várias vezes as mesmas ruas, até que me decido deter. Já estou farto de voltar a encarar a mulher das castanhas, o chinês que faz pássaros de folhas e o tipo que fuma cigarros nas arcadas.

Entro no café e peço uma bica e uma água com gás. Pago dois euros e quinze.  Sinto-me roubado. Tomo um comprimido para a dor de cabeça. 500mg devem chegar. A empregada vem limpar as mesas. Se me tira a chávena vazia... Agarro no copo de água fingindo ainda ter algo que me justifique por ali parar.

Faltam 2 horas e meia para o comboio. E o tempo não está bom para andar à chuva a tirar fotografias. Sobram-me meia dúzia de euros no bolso.Já não dá para almoçar sentado a uma mesa. Nem sequer está bom para  parar num banco de jardim para comer a sandes mista que trago dentro da mala, envolta nas máquinas e no avental.

Decido finalmente ir para a estação. Lá está mais abrigado. Molho-me.

Chove sempre em Évora.

Bebo mais um café. Está bom. Muito bom.

Como a sandes e bebo o pacote de leite. Fico uma hora a ver um jogo na televisão, sem perceber quem está a jogar. Agradeço às 4 diopetrias.

Tiro quatro fotografias mal esgalhadas medindo a luz a a olho.

Meto-me dentro do comboio. Adormeço com o calor do ar condicionado.

Acordo já em Cuba. O comboio pára em Beja e meto-me à chuva para casa.

Ao fim de 6 horas chego.


E assim percorri as Ruas de Évora.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sacrifícios por isto e por aquilo está certo, é bonito!!!
Agora o estômago também é uma prioridade.
Não é por acaso que nos velhos tempos se gritava por coisas bonitas, como liberdade, a paz mas tamb´m pelo PANITO!!
Por isso vê lá se te cuidas e exiges (a ti próprio, suponho)uns trocos para o teu bolso pelo menos para poderes almoçar decentemente.
Quem trabalha merece comer!!!
Saúde e Fraternidade!
J.Horta

Pedro Horta disse...

Olá meu Pai.
Pois claro que se gritava pela Paz pelo Pão, Habitação, Saúde, Educação.E hoje se não se grita é porque....sei lá o quê.

Não te preocupes. Há uma diferença entre o Autor e o Narrador.

Até o próprio Luiz Pacheco que gostamos tanto de falar, inventava um pouco naquelas deambulações pelas ruas...da amargura.

Mas sabes Pai, acredito que, e contrariamente ao que afirmava o tal de Maslow, a arte não surge no vértice da pirâmide, mas logo a seguir às necessidades fisiológicas primárias. Podendo coexistir em simultâneo.

Nunca fez mal a ninguém ficar voluntariamente privado do conforto, se dessa situação poder extrair uma outra visão do mundo.

Como fotografar o pobre? A mulher das castanhas que não vende? O chinês que sentado no chão vende umas coisas imperceptíveis. Como captar nos sais de prata aqueles que continuam a gritar pelo Pão?

Obviamente, tornando-nos, ainda que por momentos e voluntariamente um deles.

Assim o entendo.

Beijinho

Anónimo disse...

Fico mais descansado.
Pois a malta já não grita pelo Pão porque hoje, aqui pelos nossos lados só não o tem para a boca, quem não quer.
Pois se toda a gente tem um ou dois carros, dois ou três telemóveis etc etc e depois ainda há rendimento mínimo, até se pode ir tomar pequeno almoço por essas pastelarias e lanchar também...
Não deve haver muita razão para a FOME!
Viva o PORTAS!(para não ser sempre Saúde e Fraternidade)