Batiam as nove e meia.
Chego, invariavelmente, em cima da hora.
O átrio estava cheio.
Olho. Mas com as minhas 4 dioptrias não reconheço ninguém. Pelo menos ninguém que procurasse.
Pára o Al...
- Que fazes aí?
- Estou à espera que comece a apresentação dos livros de Mia Couto e do Agualusa...
- Eu vou para Sines, ver uma Judia a cantar.
- Tu?
- Sim a gaja é boa!
- Só assim é que vais...
Fiquei e ele foi.
Eu à espera de uma apresentação feita por africanos brancos, ele, traindo o seu anti-semitismo, ia ver uma Judia.
Regresso ao átrio.
Vejo a minha mãe.
Beijo.
Chega o Presidente e a primeira dama.
Cumprimenta-me com abraços e grande algazarra. Retribuo, com sinceridade.
Entramos. Casa cheia.
À minha frente um casal que no verão vira trio.
À minha direita a fufa do meu prédio
Começa apresentação.
Bebo um moscatel, ajuda a ouvir estas coisas culturais.
De repente uma referência ao Mestre Malangatana que estava na sala.
Este levanta-se e começa a tentar cantar o Grândola Vila Morena.
Não consegue. Insiste. Não consegue. Insiste. Risos. Palmas. Consegue. Canta-se. Palmas. Senta-se.
Diz a primeira dama...será que ele quer água, parece estar a sentir-se mal...
- oh minha senhora, não mate o homem....
Continua apresentação.
Mia Couto conta que há pouco tempo uma livreira lhe perguntou, a meio da noite, se ele queria ir conhecer Gil Vicente à sua livraria.
Conta que aceitou. não sei bem porquê. Mas desconfio.
Ao chegar, a Livreira apresenta-lhe um gato...que se chamava Gil Vicente, o qual lhe morde de imediato. Este atónito vai-se embora.
Procuro de imediato o segundo moscatel.
Não vou a tempo.
Já se contava a história do cavalo marinho que também deu à Luz....
Aguardo.
Começam os autógrafos.
Não tenho dinheiro para comprar os livros. E também não os ia ler.
Mas já que ali estou meto-me na fila dos autógrafos. A falar com as pessoas.
Já no fim, alguém da vereação fala de dedicatória no peito....
Olho para o meu amigo e digo....
Vou andando. Isto aqui está visto.
Antes de sair vejo o Malangatana com uma garrafa de água, fechada, na mão, sem saber bem o que lhe fazer. Afinal alguém sempre estava a tentar matá-lo envenenado.
Guarda-a no bolso e senta-se.
Um puto pede para tirar uma fotografia com ele. Aceita e ri-se.
Ainda hesitei...o meu telemóvel tem câmara...
Naaa....
Vou-me deitar, que já foi demais.
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