quinta-feira, 23 de julho de 2009

Diálogos impossiveis

Batiam as nove e meia.

Chego, invariavelmente, em cima da hora.

O átrio estava cheio.

Olho. Mas com as minhas 4 dioptrias não reconheço ninguém. Pelo menos ninguém que procurasse.

Pára o Al...

- Que fazes aí?

- Estou à espera que comece a apresentação dos livros de Mia Couto e do Agualusa...

- Eu vou para Sines, ver uma Judia a cantar.

- Tu?

- Sim a gaja é boa!

- Só assim é que vais...

Fiquei e ele foi.

Eu à espera de uma apresentação feita por africanos brancos, ele, traindo o seu anti-semitismo, ia ver uma Judia.

Regresso ao átrio.

Vejo a minha mãe.

Beijo.

Chega o Presidente e a primeira dama.

Cumprimenta-me com abraços e grande algazarra. Retribuo, com sinceridade.

Entramos. Casa cheia.

À minha frente um casal que no verão vira trio.

À minha direita a fufa do meu prédio

Começa apresentação.

Bebo um moscatel, ajuda a ouvir estas coisas culturais.

De repente uma referência ao Mestre Malangatana que estava na sala.

Este levanta-se e começa a tentar cantar o Grândola Vila Morena.

Não consegue. Insiste. Não consegue. Insiste. Risos. Palmas. Consegue. Canta-se. Palmas. Senta-se.

Diz a primeira dama...será que ele quer água, parece estar a sentir-se mal...

- oh minha senhora, não mate o homem....

Continua apresentação.

Mia Couto conta que há pouco tempo uma livreira lhe perguntou, a meio da noite, se ele queria ir conhecer Gil Vicente à sua livraria.

Conta que aceitou. não sei bem porquê. Mas desconfio.

Ao chegar, a Livreira apresenta-lhe um gato...que se chamava Gil Vicente, o qual lhe morde de imediato. Este atónito vai-se embora.

Procuro de imediato o segundo moscatel.

Não vou a tempo.

Já se contava a história do cavalo marinho que também deu à Luz....

Aguardo.

Começam os autógrafos.

Não tenho dinheiro para comprar os livros. E também não os ia ler.

Mas já que ali estou meto-me na fila dos autógrafos. A falar com as pessoas.

Já no fim, alguém da vereação fala de dedicatória no peito....

Olho para o meu amigo e digo....

Vou andando. Isto aqui está visto.

Antes de sair vejo o Malangatana com uma garrafa de água, fechada, na mão, sem saber bem o que lhe fazer. Afinal alguém sempre estava a tentar matá-lo envenenado.

Guarda-a no bolso e senta-se.

Um puto pede para tirar uma fotografia com ele. Aceita e ri-se.

Ainda hesitei...o meu telemóvel tem câmara...

Naaa....

Vou-me deitar, que já foi demais.

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