sábado, 22 de outubro de 2011

Por Magia...aconteceu


No passado dia 15 foi organizado um dia diferente para os miúdos e graúdos de Beja.


Escrita de Luz, um conceito de Workshop, adaptado para encontro informal de fim-de-semana.
Partindo de um desafio simples, mas aparentemente impossível ( tirar fotografias com caixas de papelão), mais de vinte amigos, entre pais, filhos, tios, educadores, juntaram-se no Clube de Oficiais da Cidade de Beja.

A coisa prometia. E eu estava nervoso. Fazer um Workshop para graúdos é diferente do que cativar 15 miúdos um dia inteiro...ou talvez não.

Uma mesa repleta de caixas, folhas pintadas com substâncias mágicas, fita cola, tesouras, cartolinas, tintas, papel de lustro....e nós à volta.



Começámos por compreender que o Homem, já desde o tempo das cavernas que se apercebeu que a luz do sol altera, pela sua acção, os materiais....nomeadamente a sua pele.

E passámos a acreditar piamente que foi nessa altura que começaram as experiencias que mais tarde levariam à invenção da Fotografia por Niépce.

Decerto que o Homem das Cavernas terá colocado folhas e cordas na sua pele para criar motivos estéticos....e se não o fez...podia ter feito que era bonito.


Foi assim mais fácil explicar que a fotografia só foi inventada porque o Homem gosta de desenhar, mas porque ao mesmo tempo também é preguiçoso....e foi por isso sempre tentou arranjar uma forma de desenhar rapidamente e sem esforço.

Criou assim umas tintas que se alteravam quando em contacto com a luz do Sol, bastando desta forma colocar folhas, desenhos, mapas, em cima dela para criar imagens....com o mínimo esforço.

E eu tinha umas folhas dessas escondidas há muito tempo.....
Há espera de encontrar um grupo de miúdos espertos.

Dividimos o grupo inicial em três e iniciamos o trabalho de descoberta dos cianotipos, enquanto forma de reprodução por contacto directo.

(quem não se lembra dos velhos mapas azuis das minas...nunca ninguém se questiounou o porquê de tal cor?)


Os grupos baptizaram-se então de:

Grupo das Cavernas;
A Tribo;
Os Primitivos;

Colocámos imagens, folhas e objectos por cima dos papeis mágicos ( com tintura obtida,em partes iguais, de uma solução de 25% de Citrato Ferrico Amonical e outra de 10 % de Ferricianeto de Potássio).

Fomos para o Sol e esperámos 20 minutos. Observando com atenção tudo que se passava....ou então correndo em cima da relva. Porque cada um se diverte como quer.












De seguida voltámos para dentro e lavámos com água ou vinagre ( para se perceber a diferença entre a lavagem em solução neutra ou ácida) e oxidámos com água oxigenada.







Os cianótipos passaram de uma cor amarelada, para verde e por fim acastanhada.

Após lavagem adquiriram a cor Azul da Prússia.

Estava explicado (ou melhor...demonstrado ) o principio da sensibilidade dos materiais à luz....bem como a cor dos mapas das minas.


Depois fomos almoçar e brincar. 
Entre frangos, massas, sopas, sumos, gelatinas, jogos de bilhar, trambolhões, música, dedos nos olhos....a coisa correu bem.



Voltámos ao trabalho.  Percebemos então que enquanto uns Homens-Preguiçosos inventavam tinturas cada vez mais rápidas para que reagissem ao sol em segundos (porque o homem é preguiçoso...mas também nunca tem tempo)....outros inventavam umas máquinas de desenho que ao serem apontadas para uma imagem, projectavam-na num pequeno vidro despolido, sendo então mais fácil desenhar por cima.




( Para quem se interessar sobre a história da Câmara Obscura veja aqui )


E assim, houve logo alguém que disse que bastava meter o nosso papel mágico em cima, para que fosse formada uma fotografia....miúdo esperto!

Claro. Foi isso que fez Niépce, no Verão de 1826.  (porque era esperto, mas também porque não conseguia desenhar mesmo com a tal máquina de desenho).

E foi o que fizémos.

Começamos a construir máquinas com caixas de sapatos, sem lentes, apenas com recurso a uma agulha com cerca de um milimetro de diâmetro.

E porquê com um furo? 
Porque se em vez de termos uma lente, colocarmos um pequeno furo, a luz ao passar por ele formará uma imagem na parede oposta. E se em tal parede estiver um papel fotográfico ( a última moda e invenção das tinturas mágicas), então teremos uma fotografia.



Iniciámos então a construção. Isolámos muito bem o interior, para que não entrasse nenhuma luz. Depois fizemos um furo na tampa e medimos a distância entre a tampa e o fundo da caixa. (fstop = Distancia/Diametro).


Foi dada então uma tabela para se encontrar o tempo ideal para se fotografar ao sol e à sombra....e lá fomos.





mil e um, mil e dois, mil e três.....já está. Uns contavam mais depressa, outros andavam com a caixa de um lado para o outro....mas algo haveria de ficar.

Hora de regressar.

Foi por fim explicado que as nossas fotografias para aparecerem, precisavam de uma poção mãgica ou senão era apenas um papel branco.

Foi feita uma poção secreta, chamada Revelador com 5 colheres de cafe, 4 colheres de detergente da roupa e um colher de vitamina C ( colheres de chá) e meio litro de água. (chamado Caffenol C).
E foi dito que a outra poção, chamada Fixador, era mais perigosa e que era necessária para podermos trazer as nossas fotografias para a luz sem que se estragassem. (solução de 15% de Tiossultafo de Sódio)

Entrámos no Laboratório e saímos contentes, magicamente resultara, tal como tudo o que é feito com Amor.



Tinha sido uma tarde diferente, entre pais, filhos, amigos e educadores.


Querem repetir?

5 comentários:

Jorge Humberto Coelho disse...

Bom dia Pedro,

o meu nome é Jorge Coelho e sou artista plástico.

Tal como tu também a minha paixão pela fotografia reside na PinHole e nos meios alternativos.
Aqui à dias fui com a minha filha, que tem 3 anos, participar num dia de actividades ao ar livre onde se fazia barro, papagaios de papel, havia contadores de histórias, teatro ao ar livre, desenho, pintura e cianotopia. Eu sempre fiz PinHole e fiquei fascinado pelo processo da cianotopia em especial pelo facto de a fixação se fazer com água.
Tenho andado a investigar para eu mesmo fazer cianotopia no ambito de uns projectos artisticos e é aqui que me deparo com um problema, não consigo encontrar o sitio para comprar os produtos.
Peço-te assim ajuda para que me indiques alguns sitios onde possa comprar Citrato Férrico Amoniacal ( cristais verdes) e Ferricianeto de Potássio ( vulgo prussiato vermelho).

Agradeço-te desde já e troco algumas curiosidades contigo, eu também nasci em 1976, estive primeiro inscrito no ensino superior em Psicologia (5 anos de inscriçoes e o 2º ano completo), só aos 28 anos fui para Belas Artes e terminei o curso de uma assentada. No meio disto tudo fui Sargento Miliciano no exército.
Actualmento vivo em Lisboa, mas sou alentejano (Beja) de alma e coração.

Já te enviei um email para o teu contacto

Pedro Horta disse...

Bom dia Humberto.

E eu já te respondi.

Espero que nos mostres a tuas obras. E já agora se tiveres algo online, deixa aqui o link.

Um abraço vizinho,

Pedro

Maria Miguel disse...

Pedro, adorei o conceito deste workshop para crianças. Um dia quando a minha sobrinha de 6 anos tiver um pouco mais de idade, iremos juntas para nos presenteares com a tua sapiência e paciência.:)
Um beijinho, boa sorte e continua este teu caminho

Pedro Horta disse...

Maria,

Com seis anos já constroi máquinas e revela fotografias.

Aparece com ela.
E se ela tiver uns amiguinhos que gostem de fazer máquinas com caixas de sapatos, diz-me que eu faço um workshop só para eles.



Beijinho
Pedro

Miguel Horta disse...

LINDO PEDRO!